quarta-feira, 20 de outubro de 2010

PROVIDÊNCIA DIVINA OU COINCIDÊNCIA

Como co-fundador e responsável pelo lar para crianças de rua Casa San Francisco, uma das minhas tarefas era a de pagar contas, comprar comida, dar dinheiro aos miudos para a escola e tudo o que tinha a ver com administrar uma casa com 15 pessoas a viver permanentemente.


Num certo mês, não lembro em que altura foi, depois de pagar os ordenados da cozinheira, da educadora e a renda de casa, sobrava-me uns sonantes $5000 pesos mexicanos. Bem! para que tenham uma ideia de quanto valia..... Para alimentar os 15 durante quatro semanas, eu gastava +- $3500 pesos, de electricidade por mês uns $1500, de gás uns $1200 e de água uns $1000. Juntem a isso as passagens dos autocarros para a escola que seriam mais uns $1000 "pesitos".


Faça-se as contas. Faltavam-me para aí mais uns $3000 a $4000 pesos nesse mês. Que fazer? Seguindo o que já tinha feito algumas vezes. Compro a comida, que é o mais importante. Se me cortarem a luz? Olha! penduro-me nos cabos. Se cortarem a água? Bem! ponho um tubo e religo. O gás? Nisso não se pode aldrabar. Passo um cheque e peço encarecidamente ao senhor que só deposite quando eu lhe ligar. O mais importante é que todos comam....


Fui então ao Sam's Club, um hiper mercado, e juntamente com 3 ou 4 miudos, enchi generosamente 4 carros, com comida para aquele pequeno pelotão de tragões. Leite, arroz, carne, feijão, massa e tudo o que era necessário para alimentar 14 adolescentes.


Na fila da caixa, ao mesmo tempo que estava na conversa com os putos, não podia deixar de sentir um aperto no estômago por saber que me ia faltar um monte de dinheiro para o resto das contas.


Um senhor que estava á minha frente, pergunta-me se éramos de algum lar ou instituição. Respondi-lhe que sim, que viviamos na zona e que sim, aquela comida era para encher a barriga aos miudos. Muito educamente esse senhor, que tinha acabado de conhecer, pergunta-me:


"Importa-se que eu pague a sua conta? É que eu gostava de ajudar."


Acho que gaguejei um sim e também uma grande quantidade de obrigados. E mediante o "favor" que fiz ao senhor, ele pagou a comida toda e eu voltei para casa com tudo o que era necessário e a carteira ainda recheada.


Pensei cá para mim "OK Deus, já percebi a mensagem". Na manhã seguinte fui logo pagar a luz e a água, e também liguei para o gás para que viessem encher o tanque. Enquanto contava o que me sobrava lembrei-me vezes sem conta da frase da Santa:


"Confia sempre na providência divina"


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