terça-feira, 25 de setembro de 2012

Mixed Feelings

Fiquei a saber à umas horas que faleceu uma senhora com quem trabalhei, ou melhor, que colaborou comigo nos primeiros tempos da instituição na Cidade do México.

Não sei se foi à pouco ou muito tempo, no entanto ao ficar a saber, que esta senhora já não está entre nós, não pude deixar de experimentar alguns sentimentos um pouco contraditórios.

Senti uma imediata tristeza, por pensar que uma mulher com a energia que demonstrava, a fé que apregoava e as obras que foi deixando, partiu. No entanto no momento em que o cérebro foi começando a ganhar terreno ao coração, fui-me lembrando de episódios da minha vida e da nossa convivência. Essa tristeza foi-se esvaindo até se transformar num sentimento perturbador, que estou para aqui a tentar articular...

Capaz de coisas fantásticas, sabia utilizar o facto de ser parte de uma das famílias mais abastadas do México para mobilizar vontades e capacidades para transformar uma pequena ideia numa grande obra. Foi também capaz de ameaçar deixar miúdos a dormir no chão ou sem colheres e garfos, porque achava que o seu orgulho era mais importante que o bem estar de 14 crianças.

Essas acções, que as julgue quem de direito. Em retrospectiva e de um modo muito particular e pessoal, foi a primeira pessoa a tornar-me profundamente desconfiado das grandes promessas de amizade e fidelidade. Tratou-me como filho, chamou-me de filho, até ao momento em que discordei das suas ideias e deixei de fazer o que ela ditava. Foram quase 3 anos de amizade, quase 3 anos de convivência e partilha de ideias e ideais que se esvaíram! De filho passei a "Judas".... e nunca mais a voltei a ver. Palavras vãs....

Depois do momento em que mandou os seus funcionários retirar as doações que tinha conseguido para a instituição (acho que já escrevi sobre este episódio anteriormente), só voltei a saber dela por duas ocasiões. Quando se envolveu com uma outra instituição para ajudar meninas da rua e hoje quando me disseram que tinha falecido. 

Não posso dizer que aprendi muito com ela. Conheci gente mais pura e congruente, mas infelizmente pouca gente encontrei que me tenha deixado tão reticente e desconfiado em acreditar em boas intenções e grandes sentimentos. Com ela aprendi a ter sempre 1000 cuidados e 1000 dúvidas. Mas tenho que reconhecer que no fundo ela era uma pessoa que queria fazer o bem.

Não consigo articular uma despedida ou um sentimento concreto em relação a esta senhora, sinto-me emocionalmente anestesiado! 

A língua inglesa tem uma expressão que me simplifica a descrição deste texto que acabei de escrever.... "Closure"

domingo, 9 de setembro de 2012

COMUNISMO E CRISTIANISMO

Nunca escondi que sou religioso e cristão. Acredito no ideal que Jesus Cristo representa e que se for vivido plenamente, representa uma sociedade ideal e infelizmente utópica.

Mas nestes dias, com o aniversário da morte da Madre Teresa, a Festa do Avante e com a minha "vivência" no Facebook, sou obrigado a reconhecer, e partilhar, que há mais congruência nas palavras/actos dos comunistas que nos pios cristãos.

No Avante ouvi a palavra Camarada vezes sem conta, invariavelmente a preocuparem-se com o meu bem estar, quer seja para me darem uma garrafa de água ou para saber se já comi e estou bem. No Facebook leio mensagens sem fim a proclamar leituras bíblicas de gente que passa a vida sentada a fazer isso mesmo, escrever citações biblicas!

No Avante vi "camaradas" a trabalhar até á exaustão para que pessoas pudessem ter experiências únicas (desporto, cultura, divertimento), sem receber um tostão e sem esperar nada em troca. No Facebook leio os convites que me mandam para assistir a concertos e cerimónias de pessoas que esperam atingir a salvação eterna, sentadas á frente do PC ou a cantar as bondades de Deus.

No Avante vi actos de civismo e respeito, no meio de dezenas de milhares de pessoas, sem olhar a idades, cores ou ideologias politicas. No Facebook, leio mais tweets e publicações de pessoas escolhidas á priori só por andarem a alabar publicamente o Senhor.

Não julgo porque não me compete, nem é a minha intenção ou função. Mas não compreendo nem me revejo num cristianismo digital ou em cristãos que vivem a vida em função da sua própria felicidade, sem fazer a coisa mais simples que Jesus pediu. Dar e dar-se aos outros, mesmo que para isso tenhamos que sacrificar algo que nos é querido.

Saio hoje da Festa do Avante o cristão do costume, mas um pouco mais "comunista", porque sempre fui admirador de congruência entre o que pregamos e o que fazemos. Por isso admiro a "minha" Madre Teresa, por isso admiro os meus amigos do Desporto do Avante, e por isso já me enjoa ler tanta treta pseudo cristã no Facebook....